Houve uma época em que artistas e bandidos freqüentavam a mesma roda de samba.
Agora, a Tate Modern de Londres traz a obra de Hélio Oiticica, neto de anarquista que homenageou o famoso bandido Cara-de-Cavalo com o banner acima.
O centauro às avessas era ligado ao jogo do bicho, roubava - coisa pouca, mas roubava -, traficava maconha e fazia as vezes de cafetão, mas era com a esposa que tamborilava os dedos sobre a mesma mesa que artistas do cacife de Oiticia.
Em 64, Cara-de-Cavalo passou dos limites (e ele os tinha ?), quando matou com um tiro o detetive Milton de Oliveira Le Cocq. Foi então caçado como um bicho (e já dava o recado no nome), morrendo estupidamente, perfurado por mais de cem tiros.
Sobre Cara-de-Cavalo, Oiticica disse: "O crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais".
Não estou aqui, de maneira alguma, fazendo apologia ao crime, à contravenção, mas entendendo o esteta como marginal, mesmo que isso soe redundante.
Que lavasse a louça, colocasse a roupa em dia, levasse o cão pra tomar banho e, com um pequeno sorriso afável, trouxesse água de lavanda pra eu mergulhar as pontas dos dedos, antes de beber um fumegante chá de laranja. É justo.
Gengibre, alho, limão e mel. Não é macumba, mas salvou minha vida.
Por que os blogs morrem e a Cadela não? Ela é de Leão.
Num papel pardo, embrulho retangular amarrado com cordão, tinha um acordeão.
Não existe botox pro vazio, que faz parte da vida. E essa mania de preencher tudo com Chico Buarque, sexo, cigarro, drink, aula de yoga, livro do Calvino, paroles e compras me cansa. A vida não aceita preenchimentos, amore. O vazio é bonito.
Você sabe qual é o gosto da sua língua?
Ah, e cu não tem acento, mesmo que a privada seja a maior invenção humana, mais importante que a roda.
Produz um fedorzinho que é de acordar, do sono grudado nos bigodes. Também as extremidades ficam aquecidas, o que provoca tenro chulé.
Me espera o dia todo voltar do lavoro e nos odores reconheço a fidelidadedaqueles que esperam sem cansar por um afago e ração úmida, como fosse prêmio e manjar.
Isto era pra ser um poema um poema de amar como apenas os cães, nos odores e esperas,sabem dar.
Mas minhas rimas pueris junto com o polegar desenvolvido me fazem menor do que é capaz um cão de doar.
* Virginia Woolf, em "Flush - o diário de um cão", revela os mistérios da existência sob a ótica do melhor amigo do homem.
A Simone, minha amiga, falou do livro "A gorda do Tiki bar" e a Lívia, outra queridota, apresentou-me Françoise Hardy. Então, hum, esperança de beleza e delícia e cócegas existenciais. Além, é claro, de esquecer os gritos de ontem, a perversão, o inferno coporativo, os discursos atravessados, a porta pro Departamento de Equívoco escancarada. E todo o kit. Umpf.
Um livro. Uma cantora. Duas amigas! E viva la revolución!
*
Os homens engrossam a lista dos meus amores de amigo. Porque mulher, normalmente, é chata. E de chata, me basto. Ah, existem as que são machas, como Simone e Lívia (e eu). Mesmo que delicadas, um aço!