terça-feira, 10 de junho de 2014

Era o que faltava em mim

Bathânia me levou a Clarice. E eu trouxe as duas pra cá.

"Que eu não esqueça que a subida mais escarpada e mais à mercê dos ventos, é sorrir de alegria."

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos

Eu sei que não deveria ser mata-mata - ou blog, ou Facebook. Mas dei um tempo lá. Algo como um detox, porque é muito dedinho pra cima, muita catação e nenhuma arrumação. É algo como estar aturdido com o canto dos passarinhos. Ou ainda, parecido com ondas-curtas mal sintonizadas. Aí, eu voltei pra cá, pra dentro, intento. Ao invés de atender janelinhas de bate-papo, escancarei a porta da minha angústia por retorno, aceitação. E fiquei segurando firme a maçaneta, pra que a porta não se fechasse, inclusive,convidei pra entrar. E sabe? Não era a ferramenta o importante - há uma profusão delas por aí - mas o aturdimento. A ocupação. On demand! On demand! Alguém falará de medida? Sim, tem que ter, mas tu é imputado o tempo todo e aí desvia a atenção de tantas coisas (preguiça de listar), a exemplo dos textos do Paulo Mendes Campos. A ver:

"Quem coleciona selos para o filho do amigo; quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava; quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho; quem segura sem temor uma lagartixa e lhe faz com os dedos uma carícia; quem se detém no caminho para ver melhor a flor silvestre; quem se ri das próprias rugas; quem decide aplicar-se ao estudo de uma língua morta depois de um fracasso sentimental; quem procura na cidade os traços da cidade que passou; quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada; quem costura roupa para os lázaros; quem envia bonecas às filhas dos lázaros; quem diz a uma visita pouco familiar: Meu pai só gostava desta cadeira; quem manda livros aos presidiários; quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio; quem escolhe na venda verdura fresca para o canário; quem se lembra todos os dias do amigo morto; quem jamais negligencia os ritos da amizade; quem guarda, se lhe deram de presente, o isqueiro que não mais funciona; quem, não tendo o hábito de beber, liga o telefone internacional no segundo uísque a fim de conversar com amigo ou amiga; quem coleciona pedras, garrafas e galhos ressequidos; quem passa mais de dez minutos a fazer mágicas para as crianças; quem sabe construir uma boa fogueira; quem entra em delicado transe diante dos velhos troncos, dos musgos e dos liquens; quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência; quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição; quem se desata em sorriso à visão de uma cascata ; quem leva a sério os transatlânticos que passam; quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz; quem de repente liberta os pássaros do viveiro; quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo; quem julga adivinhar o pensamento do cavalo; todos eles são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre."
(Paulo Mendes Campos, O anjo bêbado).

Vou continuar visitando sozinha minhas felicidades e infelicidades. Off-line do curte, compartilha, só que não.