quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

I need more

A coisa tá osca e vai se debruçando. Traduzindo: trabalhamos XYZ horas pela mesma grana referente a X; grana essa que não paga o estresse do quanto-mais-se-tem-mais-se-deve-fazer. Quanto mais atualizamos o calendário, mais engrossa a tripa de compromissos.

- Isso é vida?

Lidamos com uma seqüência absurda de "mais" e, a bem da verdade, menos que esse tanto estaria de bom tamanho.

O presenteísmo nunca esteve tão impregnado no que chamo de "masmorras" - porque são poucos aqueles que têm a dádiva de trabalhar em locais criativos, arejados, vivos (com gente idem). A maioria está na manada da luz branca e das mesas de fórmica, transformando-se em pessoas com cor de peixe e cérebro de galinha: se derem a ração 495 vezes por dia, come-se, porque não se pára pra pensar se há DESEJO ou não: vai no automático.

E daí que o automatismo de chinelos é mais negócio: ver as bundas flamejantes à beira-mar, trabalhar com o cachorro aninhado aos pés... e que negócio é esse de cartão-ponto? Quem trocou meu nome por um código de barras?! Damnt.

Resultado: a procrastinação cresce a olhos vistos, corpos jazem em cadeiras ergonômicas e o mundo lá fora muda: o Fidel sai fora, a Campus Party bomba, a Galisteu sorri seu sorriso de papel, a gurizada não conhece Cartola, ninguém mais lê os clássicos nem as bulas de remédio: estamos cheios de tanto vazio. Vazio existencial que botox nenhum preenche.

Quanto a mim... já não sou jornalista, blogueira, projeto de escritora ou dona de casa: sou um mix das minhas vivências pessoais. Aquilo tudo que a faculdade me enfiou goela abaixo foi substituído por e.e. cummings, almocos com Píri, noites atravessadas com o olho grudado no teto, as fugas da manada no horário do almoço com Marçal Aquino, aquele cd de música francesa, cada idéia apontada no Moleskine e cada medo partilhado na análise, bem deitadinha, que eu não sou palhaça de ninguém. E mesmo assim, I need more.

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